Os brises barram a incidência da radiação solar antes que ela atinja a fachada e, consequentemente, o ambiente interno, reduzindo o calor recebido. Em comparação a outros dispositivos de proteção solar, oferece melhor controle dos ganhos térmicos, iluminação natural adequada e ventilação. É um elemento de uso externo às fachadas.
A especificação desse elemento no projeto e a avaliação da eficiência baseiam-se na geometria de insolação, dimensões, orientação da fachada e na determinação do fator solar. Joene Saibrosa, arquiteta mestre em conforto pela Universidade de Brasília, explica que o profissional precisa avaliar a orientação solar da superfície e definir o horário que deseja proteger a construção da radiação solar. “Essas informações são requisitos para verificar o tipo de brise ideal, sendo necessário considerar a luminosidade, ventilação, visibilidade, custos de aquisição e manutenção”. É preciso, além disso, determinar em quais situações o sombreamento é desejável. “Em climas quentes, é fundamental para reduzir o ganho de calor. Já nos climas ou em períodos frios, a insolação é bem-vinda”, orienta Grace Gutierrez, arquiteta urbanista e mestre em Engenharia Civil pela Universidade de Campinas (Unicamp).
Quando especificado brise móvel, deve-se ter o cuidado de criar passarelas para manutenção das lâminas
Joene Saibrosa
Para Grace, não há muitas recomendações específicas para cada tipo de construção. “No caso de edifícios de grande altura, há de ser considerado o peso do elemento (pois irá impactar diretamente na estrutura), bem como a limpeza e a manutenção das placas”, observa.
Recomenda-se, também, o uso de um brise fixo em edificações de grande porte para evitar a movimentação constante das lâminas por diversas pessoas. O afastamento mínimo da fachada deve ser de 60 cm para permitir a execução de uma passarela vazada, ventilação natural e facilitar manutenções. “A lâmina perfurada tem sido bastante utilizada, pois garante boa visibilidade interior-exterior, mesmo para brises com angulação de abertura menor”, aponta Joene.
VERTICAIS, HORIZONTAIS OU MISTOS
Os brises podem ser pré-fabricados, fabricados sob medida ou moldados in loco. São classificados por diversos aspectos, resultando em ampla variedade de soluções. As categorizações mais comuns se dão pela tipologia de suas lâminas (verticais, horizontais ou mistas), pela sua mobilidade (fixa ou móvel) e pelo acabamento (liso ou perfurado).
“Quando especificado brise móvel, deve-se ter o cuidado de criar passarelas para manutenção das lâminas”, ressalta Joene. A arquiteta também lembra que as características do material impactam na capacidade do dispositivo. “A cor preta absorve 97% da radiação solar incidente, refletindo apenas 3% da mesma. Parte absorvida é conduzida e emitida para o ambiente”, exemplifica. Os brises podem ser fabricados em aço, concreto, madeira, tela, vidro, policarbonato, painéis fotovoltaicos, painéis prismáticos e outros. “Para escolher a melhor opção para o projeto, o profissional deve considerar as características dos materiais, a necessidade e condições de investimento do cliente, assim como as questões estéticas envolvidas”, explica Joene.
“O que assegura o bom desempenho do brise é o dimensionamento adequado desse dispositivo de sombreamento frente às necessidades de projeto. Outros aspectos precisam ser considerados como o peso, a estrutura de fixação, manutenção e limpeza e custo da solução. Assim, se obterá a melhor relação custo-benefício”, completa Grace.
QUALIDADE SUSTENTÁVEL
Embora não exista certificação específica para dispositivos de sombreamento, o uso do brise garante impacto significativo em quesitos de eficiência energética e desempenho térmico e luminoso de selos de sustentabilidade — como o AQUA e o LEED. Para Joene, seu uso pode melhorar a classificação sustentável de construções. “É um elemento que controla os ganhos térmicos e equilibra a iluminação no ambiente interno, além de permitir a ventilação. Dessa forma, reduz o consumo energético com iluminação artificial e climatização”, explica. Grace afirma que o brise pode ser classificado como um componente sustentável. “Ele visa o conforto térmico do usuário, das condições de luz natural e redução da carga térmica nas edificações, tendo impacto significativo na melhoria do desempenho da edificação e, portanto, nas condições de conforto ambiental”.
Não existe uma norma específica para aplicação dos brises, apenas orientações de uso de elementos de proteção solar em edificações. A ISO 15099, por exemplo, é uma norma internacional que determina o fator solar para dispositivos da categoria em geral, mas não se aplica aos dispositivos externos à fachada em função das múltiplas variáveis envolvidas no processo.
COMO COMPRAR
Antes de adquirir o brise, o profissional deve ter certeza de que o modelo especificado atende aos requisitos definidos em projeto. “A partir da definição da solução geométrica, pode-se prever a quantidade e dimensões das placas, a área de fachada ou abertura a ser protegida, e o material e acabamento superficial do dispositivo”, diz Grace.
Deve-se levar em consideração a quantidade de m² onde será aplicado o brise, a necessidade de estrutura auxiliar para fixação, mão de obra especializada para aplicação e garantia do produto Grace Gutierrez Para Joene, “deve-se levar em consideração a quantidade de m² onde será aplicado o brise, a necessidade de estrutura auxiliar para fixação, mão de obra especializada para aplicação e garantia do produto” antes de finalizar a compra.
CUSTO-BENEFÍCIO
Embora os brises tenham custo elevado, é necessário considerar a economia que proporcionam na redução de consumo de energia e bem-estar das pessoas. “A previsão de custo considera apenas a execução de obra. Não é avaliada a relação custo-benefício obtido com a economia da eficiência térmica do dispositivo, com a redução do consumo de energia para condicionamento artificial. Em relação a ambientes de trabalho e estudo, pesquisas mostram que o conforto do usuário tem impacto direto na produtividade do trabalhador e aprendizagem de alunos”, pontua Grace.
VANTAGENS
- Redução da carga térmica
- Desempenho térmico e luminoso
- Economia de energia
- Permite ventilação e visibilidade
DESVANTAGENS
- Manutenção difícil das lâminas móveis
- Limpeza complicada
- Custo elevado comparado a outras soluções da categoria
É BOM SABER
Na arquitetura brasileira, as soluções mais usuais de brises são aquelas moldadas em concreto ou argamassa armada, com lâminas horizontais, verticais ou combinadas — bem como cobogós e elementos vazados em cerâmica, muito comuns no início do modernismo no Brasil. A valorização dessa solução passou a caracterizar a arquitetura nacional com forte repercussão internacional, em função da influência de arquitetos como Oscar Niemeyer, Rino Levi, Le Corbusier e outros arquitetos contemporâneos.
Fonte: AECweb